Muitos são os momentos que nos vemos presos a determinados modelos, estereótipos, marcas e tantas outras coisas alheias. Por muitas vezes nos ajustamos para fazer parte da massa seguidora do modismo. Deixamos de observar ou de considerar valores fundamentais para a nossa existência inteligente na Terra, para perseguir o direito à igualdade. Mas o problema é que não estamos tratando da igualdade que já é garantida por direito, e sim, da igualdade de status, de inclusão nos padrões de beleza, porque alguém disse um dia que tais aspectos padronizados são os mais “legais”, os mais adequados, os mais chiques ou apurados. Porém, esse ainda não é o maior problema. O pior é quando, para corresponder a esses padrões, abrimos mão de manifestar e afirmar aquilo que é tão nosso, que é essencialmente individual, que são as nossas idiossincrasias, como dizia Carlos Drummond de Andrade, na sua obra Eu, Etiqueta.E por agirmos de tal maneira, a própria sociedade, que nos impõe modelos a serem seguidos, agora nos torna comparáveis a coisas, pela frieza com que abandonamos nossos princípios e valores; pela maneira como valorizamos a artificialidade; pela facilidade com que passamos por cima do outro.Esses foram alguns dos aspectos levantados e discutidos, a partir do texto Eu, Etiqueta, com os alunos da 3ª série do Ensino Médio. Além da discussão, os alunos tiveram a oportunidade de posicionar-se frente a possível ressignificação do ser humano, aproximando-o ou não do conceito de “coisa”, conforme podemos ver pelos textos a seguir:
Karoline e Jéssica (3ª série, noturno):
O mundo em que vivemos está em constante evolução; tecnologias, novas descobertas, revolucionam a vida das pessoas. O ser humano caminha junto com esse processo de evolução, mas nem sempre evolui de uma forma positiva. O capitalismo, o consumismo levam as pessoas a seguirem modelos, a serem o que não são. Por dar mais valor ao material do que ao espiritual e emocional o ser humano se torna um objeto, uma coisa, perde seus valores e sua essência, passando a ser apenas mais um entre tantos.
Certamente cada pessoa tem seus princípios, seus valores, sua identidade, de modo algum poderia ser chamado de coisa, pois coisa é um objeto frio e sem vida. Entretanto, em função dos acontecimentos que presenciamos e participamos ao longo dos tempos, podemos constatar que as pessoas jogam fora sua identidade, seus princípios e nem percebem que estão substituindo seu nome por um rótulo, uma etiqueta, submetendo-se aos apelos materiais.
O fato é que vivemos em uma sociedade uniforme. Quanto mais adquirimos, mais queremos ter. Então a expressão "coisa" se encaixa perfeitamente na condição do ser humano.Cada indivíduo é único, mas cada vez mais está perdendo sua individualidade. Está sendo simplesmente mais uma unidade. E para nós assim está bom, pois estamos acomodados. É mais fácil fechar os olhos e fingir que não sabemos de nada do que mudar nossas atitudes e ressaltar o que realmente vale a pena, os nossos valores.
Portanto, vamos lembrar dos nossos sentimentos, da nossa identidade. Não sejamos apenas mais cópias ambulantes de modelos pré-estabelecidos pela nossa sociedade. A originalidade nos faz diferentes e nos torna especiais; tão especiais que a denominação "coisa" deveria nomear os objetos que existem para nos servir, e não ser uma palavra a nos identificar.
Fernando Veríssimo e Jackson Weigel (3ª série, matutino)
É de conhecimento geral que a sociedade é o que cada um quer que ela seja. A moda é um aspecto criado pela sociedade. Entretanto, o jeito que cada um se veste é, de certa forma, uma moda diferente, pois cada um adapta-se a um estilo diferente; alguns de acordo com suas finanças, outros por mera imitação e outros mirando no seu próprio conforto.
Assim podemos dizer que cada um tem um estilo particular dentro de si, alguns procuram expressá-lo, outros não. Na maioria das vezes, aqueles que expressam seu estilo buscam uma moda que lhes faz se sentir bem, que lhe traz conforto, que seja também de seu gosto. Contudo, há aqueles que adotam modismos que não lhe são convenientes acabando por vestir-se e acabam mesmo vivendo em função dos outros, não buscando necessariamente o que gostam e sim o que a maioria acha legal.
Vemos também que a moda faz a cabeça das pessoas, pois a moda foi criada por determinadas pessoas e acaba influenciando outras com poder de decisão menor. Quando uma pessoa tenta seguir a mesma moda que outras, ela está se espelhando e, de certa forma, deixando o seu próprio estilo de lado, escondendo sua própria natureza e camuflando os seus costumes. Para nós, mais importante do que "estar na moda", do que estar bem ou mal vestido ou ter uma roupa de marca, é termos nossos costumes e tradições preservados, junto com o bem-estar das pessoas que estão ao nosso redor. Todas as pessoas são nada mais, nada menos, aquilo que fazem e isso se reflete no seu modo de agir e de pensar. A atitude humana definem os rumos da sociedade e os modismos dizem respeito apenas a um dos muitos caminhos que podemos escolher para seguir. E devemos optar sempre por aquele que nos traz mais felicidade, independentemente de estarmos agradando ou não à maioria.
Maritanya e Letícia (3ª série, noturno)
Estamos vivendo, mais do que nunca, uma crise de valores. Não sabemos o que realmente somos e acabamos nos confundindo com “coisas”. Por outro lado, nós, seres humanos, reconhecemos que pensamos, agimos, amamos, odiamos e nos arrependemos, diferentemente do que fazem os objetos, as “coisas”.
Somos uma mistura de sentimentos e de emoções que expressamos de maneiras diferentes. Apesar de, às vezes, agirmos de forma igual aos demais, temos qualidades e defeitos que nos diferem dos outros.
A mídia e a moda tentam fazer com que percamos a nossa essência, mas somos mais fortes e nos orgulhamos de sermos nós mesmos, temos orgulho de sermos diferentes.
Temos valores que não temos vergonha de defender e honrar, e que são como um “combustível” que nos dá força para seguir em frente e nos levantar após cada “tombo”.
Nós somos seres únicos, temos um DNA único, pensamentos únicos, temos idéias, gostos, prazeres, gestos, comportamentos únicos, que apesar de alguns tentarem generalizar, nunca deixaremos de ter nossa própria identidade.
Por isso, não somos “coisas”, pois coisa pode ser qualquer objeto que tenha qualquer valor... Nós somos seres humanos que temos vida própria e que, em nenhum lugar do mundo deixaremos de ter valor. E um valor tão alto, que não pode ter um preço estabelecido.
Adriana e Neiva (3ª série, matutino)
Estamos sempre em busca de coisas que fazem nossa vida ter sentido, mas, às vezes, nos preocupamos tanto em dar sentido a tudo que acabamos por esquecer o que realmente somos e passamos a viver como “coisas”. Estar na moda, por exemplo, muitas vezes deixando nosso verdadeiro “eu” de lado para entrar numa vida que nos foi imposta. Aí vem a pergunta: Será que somos mesmo “coisas”?
Cabe a nós responder a essa pergunta, para enfim sabermos o que realmente somos. Na nossa opinião não somos coisas, somos vítimas dos meios de comunicação sim, somos alienados sim, e devido a esta alienação também nos falta senso crítico para definir o que nos traz benefícios e malefícios. Queremos estar na moda sim, queremos parecer bem à vista das outras pessoas também, e apesar de tudo isso, continuamos com a ideia de que não, não somos “coisas”, e mesmo sendo vítimas da moda, todos nós temos sentimentos e formas diferentes de nos expressarmos.
Nós, jovens principalmente, necessitamos da esperança de que podemos tornar esse mundo capitalista e decadente em que vivemos, num lugar melhor, onde, quem sabe, nossos filhos e netos possam viver felizes e sem desesperanças. Nós jovens, não podemos perder nosso jeito revolucionário, que é típico da adolescência, para nos perdermos na futilidade da moda. Temos a consciência de que quando pudermos aceitar e conviver com o que realmente somos, aí sim poderemos viver em paz e com um mínimo de aproveitamento, durante o curto tempo em que o ciclo da vida nos permite estar nesse pequeno e, ao mesmo tempo, tão grande mundo chamado Planeta Terra, que não se resume aos rompantes da moda, a suas extravagâncias e estações e que é muito maior, e talvez melhor, do que podemos imaginar.
O que nos leva a acreditar que não somos simplesmente “coisas” é a ideia de que existem meios de nos informarmos para assim nos tornarmos mais “mente aberta”, e com um senso crítico mais aguçado. Somos capazes e temos criatividade o bastante para criarmos nosso próprio estilo. Queremos estar bem conosco, com nossa vida e com a roupa que usamos, sem nos preocupar em manter as aparências, pois somos seres sentintes e pensantes. E é isso que nos leva a pensar: Somos muito mais que “coisas”!
Roney Schenatto, Juliano da Silva e Cleiton Ferraz (3ª série, noturno)
As realidades sociais, das quais fazemos parte, o que parece ser, estão relacionadas a algo totalmente diferente, por isso temos de estar cientes de nossa identidade e individualidade. O ser humano, apesar de demonstrar muitas faces, jamais pode ser denominado “coisa”.
Muitas vezes as pessoas não se dão conta de que merecem ser mais valorizadas, esquecem de que sua essência é única, e por ser assim, possuem características próprias que são insubstituíveis para que o todo funcione, para que o mundo seja mundo. Somos pessoas normais, podemos não ter a exaltação da sociedade, mas com certeza para alguém seremos úteis, e de algum modo buscamos suprir certas necessidades.
As pessoas são enaltecidas pelo seu caráter e sua moralidade. Quando alguém se resume apenas à “cosa” ela perde seu valor perante si mesma, já que somos reconhecidos pela nossa individualidade; do contrário reagiríamos de maneira vulgar, pois a vida se tornaria muito monótona se não tivéssemos atitudes próprias, se fôssemos generalizados como são as “coisas”.
Portanto, a comparação pode até existir, mas deve-se respeitar a natureza humana que se afirma e se realiza na individualidade, na essência, nas qualidades que fazem de cada ser humano um ser único e especial.
Renan e Carine (3ª série, matutino)
De acordo com certas posturas e limitações que o mundo capitalista nos impõe, podemos notar que tomamos certas atitudes pelas quais somos comparados a “coisas”. Porém, não somos coisas, pois temos em nossas mãos o poder de escolha, e como todo ser humano, temos sentimentos e também somos únicos, diferentemente da artificialidade das “coisas”.
Temos em nossas mãos o poder de escolha, e podemos escolher entre sermos “padrão”, e aceitarmos uma sociedade inescrupulosa que só visa lucros próprios, ou sermos quem realmente somos, não quem querem que nós sejamos.
Como todo ser humano, temos sentimentos e emoções; qualidades que “coisas” não possuem; somos capazes de sentir, pensar e agir de acordo com os nossos princípios e ideais.
E, por último, mas não menos importante, somos únicos, não temos cópias; temos nossas próprias idiossincrasias, características que carregamos por toda vida, e isso nos faz sermos únicos, diferentes de todos a nossa volta.
Enfim, afirmamos que não somos coisas, pois coisas são comuns. Nós não somos coisas! Nós somos especiais, pois em cada um de nós existe um cérebro diferente do outro, um pensamento diferente do outro e, acima de tudo, um coração que é só nosso e que ninguém tem igual, por isso, temos de dar valor inestimável a essa qualidade tão especial que é só nossa e de mais ninguém.